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Brasil pode liderar "nova economia florestal" com reflorestamento


Com investimentos na restauração de áreas nativas e a ampliação das vendas de madeira certificada, o Brasil pode se tornar um líder global da chamada “nova economia florestal". Pelo menos é o que apontam especialistas no setor, ao avaliar as estratégias brasileiras em relação aos demais países.


Representantes de ONGs e empresas ligadas à exploração comercial e à certificação de madeiras, atualmente, estudam formas de promover concretamente um modelo de mercado que concilie o lucro com a preservação das florestas e as metas de reflorestamento.


Apostas de longo prazo no manejo de florestas seriam parte do processo. Isso envolve:


(1) reflorestar áreas de florestas nativas desmatadas; (2) conciliar a produção de madeiras com outras culturas agrícolas;

(3) produzir mais madeira certificada, cuja origem não só obedece a lei, mas segue parâmetros de sustentabilidade ainda mais rígidos.



Recuperar florestas nativas


Os principais produtos do setor florestal atualmente são madeira, papel e celulose. Boa parte da madeira brasileira é exportada. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que em 2018 o Brasil vendeu para o exterior o equivalente a R$ 3,2 bilhões em madeira e seus derivados (madeira serrada, compensada, laminada, em painéis, obras de marcenaria, etc).


Embora o setor venha expandindo as exportações nos últimos dez anos (veja o gráfico abaixo), o diretor do programa de florestas do "World Resources Institute" no Brasil (WRI Brasil), Miguel Calmon, avalia que ainda é possível aumentar em muito as vendas internacionais.


"Nos últimos 15 anos os Estados Unidos e China se mantiveram como principais destinos das exportações de madeira serrada tropical do Brasil", diz ele.


De acordo com o Forest Stewardship Council (FSC), conselho responsável pelas normas de certificação de madeiras, o setor florestal emprega diretamente cerca de 610 mil pessoas no Brasil.


Exportação de madeira do Brasil e seus manufaturados


A forte queda no ano de 2009 foi consequência da crise econômica internacional


O Brasil tem a segunda maior cobertura florestal do mundo – o que inclui florestas naturais e plantadas – ficando atrás apenas da Rússia. No total, são 516 milhões de hectares de florestas brasileiras. Estima-se que, sozinha, a Amazônia tenha mais de 300 milhões de hectares em florestas tropicais (uma área maior do que toda a Argentina).

Mas enquanto empresas dos Estados Unidos investem cerca de US$ 100 bilhões (R$ 386 bilhões) ao ano em projetos comerciais de reflorestamento, o Brasil se aproxima dos US$ 35 bilhões (R$ 135 bilhões).


Desse total, Calmon explica que o investimento em florestas nativas é quase zero. Além disso, uma parte expressiva da madeira comercializada no Brasil ainda vem do desmatamento ilegal.


O grande desafio, portanto, é como ampliar a produção de madeira sem aumentar o desmatamento. Calmon avalia que é preciso combinar a silvicultura (cultivo de florestas exóticas, principalmente de pinus e eucalipto) a práticas de reflorestamento com espécies nativas do Brasil.


"O Brasil é muito promissor. Temos uma ótima taxa de crescimento de florestas e uma ampla demanda por reflorestamento." – Miguel Calmon, do WRI Brasil.

Florestas plantadas de eucalipto e de pinus no Brasil somam mais de 6,7 milhões de hectares.


Técnicos do setor, como os da Embrapa, vêm realizando estudos para chegar a propostas concretas de como recuperar áreas desmatadas plantando árvores típicas de cada bioma do país.


Uma vez restauradas, essas florestas também podem ser exploradas comercialmente, desde que haja um manejo adequado: é preciso que sempre se mantenha um nível mínimo de área de floresta e que não se faça o chamado "corte raso". Esse corte derruba a planta por inteiro, como é normal em florestas de eucalipto e pinus.


"É preciso promover investimento em reflorestamento de florestas nativas que deem retorno financeiro", afirma Calmon. "Mas é um negócio de longo prazo. O investimento inicial é pesado e não temos ainda um histórico. Nunca uma empresa de capital aberto reportou resultados de reflorestamento de florestas nativas [no Brasil]."


A primeira questão que se levanta, no entanto, é se essas árvores podem crescer tão rapidamente quanto as espécies usadas em florestas plantadas. O eucalipto, por exemplo, é economicamente viável porque se adapta a diferentes regiões e já é possível derrubá-lo com apenas 5 a 7 anos de idade.


Mas o paricá da Amazônia, por exemplo, apresenta taxa de crescimento equivalente à do eucalipto e já vem sendo usado há mais de uma década no plantio experimental para produção de madeiras.


As pesquisas com espécies nativas têm com um dos desafios encontrar formas de estimular o crescimento das plantas para fins comerciais, mas respeitando seu ritmo natural, para que a qualidade da madeira não seja prejudicada. "Não adianta encher a floresta de adubo se a madeira não for de qualidade", diz Calmon.


Num período de transição, seria possível integrar as florestas plantadas com plantações de florestas com espécies nativas. Além disso, pode-se plantar numa mesma área árvores para produção de madeiras e plantas de outras culturas agrícolas. O café e o cacau, por exemplo, podem se beneficiar da sombra de árvores maiores.


Como são espécies da flora brasileira, árvores nativas poderiam, segundo a lei atual, até mesmo compor áreas de preservação, como as Reservas Legais, num plano de "manejo florestal sustentável". Na Amazônia, atualmente esse manejo de florestas nativas permite retirar algo como 3 a 5 árvores a cada 30 anos, no mesmo hectare de terra.


Nas palavras da diretora executiva do FSC, Aline Tristão, "manejo florestal não é desmatamento". "É uma atividade produtiva com baixo impacto florestal e social em áreas que se reconstituem e que, depois, podem ser novamente manejadas. Você vai poder usar aquela mesma área por mais tempo." - Aline Tristão, do FSC


Áreas de florestas certificadas no Brasil


Do total de 7 milhões de hectares


O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma das associações que realiza a certificação seguindo as normas do FSC, acompanhando tanto a origem da madeira quanto as etapas pelas quais passou até se tornar o produto final (rastreabilidade).


"Isso vai desde o cumprimento do Código Florestal até a qualidade da água, a manutenção da biodiversidade, a proteção de áreas de alto valor para conservação. Se temos uma área de floresta nativa, com fauna endêmica da região, tudo isso precisa ser protegido e monitorado", diz o gerente de certificações da Imaflora, Leonardo Martin Sobral.


Outro ponto importante da certificação das florestas é a mitigação de possíveis impactos causados pela atividade produtiva. Em alguns casos, o eucalipto de floresta plantada, por exemplo, tende a ressecar o solo. Portanto, é preciso que a empresa compense de alguma forma esse risco, garantindo que as propriedades vizinhas também possam se manter produtivas.


"Se o manejo for bem feito, ele tem que minimizar eventuais impactos", afirma Sobral. Para isso, o manejo de florestas certificadas demanda um monitoramento das bacias hidrográficas, da qualidade da água e do volume dos recursos hídricos utilizado. "Se tiver causando algum tipo de impacto, ações têm que ser feitas para mudar isso."


Fonte: G1

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